Os impactos na saúde mental com a regulação das bets, as casas de apostas virtuais, foram debatidos em uma plenária temática do Cremego, na noite da segunda-feira (9).
O médico psiquiatra, ex-presidente do Cremego e ex-conselheiro por Goiás no Conselho Federal de Medicina (CFM), Salomão Rodrigues Filho, ressaltou que a dependência de jogos (ludopatia) é algo conhecido e catalogado pela Classificação Internacional de Doenças (CID 10). “A facilidade para jogar torna as pessoas ‘presas’ mais fáceis”, alertou ele, acrescentando que entre as principais vítimas estão os mais pobres.
Em meio a esse cenário, a Prefeitura de Goiânia divulgou uma licitação para a criação de uma bet municipal. “Isso contribuirá para o ciclo de vulnerabilidade entre os cidadãos da nossa capital”.
A plenária também contou com a contribuição da jornalista Cileide Alves, do jornal O Popular, que lembrou histórias acompanhadas por ela de pessoas dependentes de jogos.
“Estamos em uma situação diferente agora. Antes, as pessoas tinham que sair de casa para jogar. Agora, os jogos estão na ponta do dedo e isso se torna incontrolável”.
Ela citou a força do lobby dos jogos no Congresso Nacional e que, durante o governo Michel Temer, teve a primeira legislação para a regulamentação, com a crença de geração de emprego e renda. “Porém, não há estudo que prova esse crescimento econômico”, definiu ela.
Para a jornalista, faltam campanhas e políticas públicas de conscientização, como na década de 1990, com a luta contra o tabagismo. “A sociedade deve cobrar do Congresso Nacional. Os deputados devem olhar para nós (população) e não só para quem ganha dinheiro. Estamos ainda em tempo de salvar algo, porque impedir nós não iremos”.
O médico psiquiatra e conselheiro do Cremego, Jairo Belém Ribeiro Júnior, explicou aos participantes da plenária quais são os processos que caracterizam a dependência.
“O jogo é muito envolvente, mais até que as drogas e, como foi falado, está na ponta dos dedos”, alertou ele.
Mesmo com todo esse perigo, o Brasil conta com apenas um ambulatório psiquiátrico especializado em vício em jogos, na Universidade de São Paulo (USP), que já enfrenta uma longa fila de espera para atendimentos.
Os psiquiatras relataram que viram um aumento de pacientes dependentes em seus consultórios, geralmente, levados pelas famílias. Há inclusive casos de crianças jogando, com pesquisas mostrando que 48% de jovens tiveram contato com apostas somente em 2024.
As estimativas são de que 10% das pessoas que jogam se tornem viciadas, sendo que um em cada 8 que desenvolvem a ludopatia tenta se matar. “É justo incentivarmos algo que pode destruir a vida e a família de alguém?”, questionou Jairo.
Ao final, a plenária coordenada pelo 2º vice-presidente do Conselho, Vagner Ruiz Gil, aprovou a criação de um grupo de trabalho sobre as bets, com auxílio da Câmara Técnica de Psiquiatria. O grupo vai guiar o Cremego nas ações necessárias para a proteção da população.
Também foram debatidas visitas ao prefeito eleito de Goiânia, Sandro Mabel, assim como ao Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Tribunal de Contas para uma conversa conjunta a respeito do cenário vivenciado atualmente.