Reportagem publicada no jornal O Popular de 13/02/11

 

PARA CRM, PROGRAMA DEVE PREVENIR

 

Propostas de coordenadora de urgências no face a face gera opiniões distintas de especialistas

Camila Blumenchein

 

O presidente do Conselho Regional de Medicina de Goiás (CRM), médico Salomão Rodrigues, acredita que a função do Programa de Saúde da Família (PSF) é promover a prevenção da saúde dos moradores atendidos e o resultado, alcançado a médio prazo. A afirmação, em tom crítico, foi feito pelo médico às afirmações da coordenadora de Urgências da Secretaria Municipal de Saúde, Patrícia Antunes de Moraes, no Face a Face do POPULAR, publicado na edição de ontem.

“Me chamou muito a atenção na entrevista de Patrícia o fato dela ter colocado a solução do atendimento nos Cais no PSF. O programa, nesse caso, é visto como um posto de atendimento, o que é um equívoco”, afirma Salomão, ao salientar que a função dos PSF é fazer a promoção da saúde, ou seja, o programa é focado na prevenção da saúde dos moradores atendidos e o resultado é alcançado a médio prazo. “É um trabalho extremamente importante, mas que não tem a finalidade dos postos de atendimento”, completa Salomão Rodrigues..

Ao Face a Face, canal interativo do POPULAR pelo Facebook, Patrícia Moraes enfatizou que os Centros de Atenção Integral à Saúde (Cais) só ficam lotados porque, na maioria das vezes, os pacientes não utilizam os mecanismos de prevenção existentes dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Como forma de melhorar o atendimento no Cais, Patrícia Moraes sugeriu um aprimoramento do Programa de Saúde da Família (PSF), com maior acesso aos usuários.

Salomão acentua que o PSF hoje conta com médicos que não têm como prioridade o trabalho em promoção da saúde. Muitos, segundo ele, são médicos que estão se preparando para a residência e que têm a intenção de sair deste trabalho rapidamente. “O médico é o principal profissional do PSF e é importante que esse profissional permaneça no PSF durante longo tempo para que ele conheça bem as pessoas do bairro que atende e assim possa realizar a orientação correta para cada caso. A imensa rotatividade de médicos no PSF atrapalha a realização do serviço com qualidade”, ressalta.

O presidente do CRM também sublinhou a afirmação de Patrícia em relação ao atendimento nos Cais, que conforme ela deve ser respeitoso. “O atendimento que o médico oferece ao paciente é, maioria das vezes, respeitoso, com algumas exceções, claro. Só que o atendimento dado pelo SUS ao médico é quase sempre desrespeitoso”, alerta.

Salomão se refere às péssimas condições de trabalho oferecidas pelo SUS aos médicos, o que reflete diretamente no atendimento precário oferecido aos pacientes. Segundo Salomão, ao trabalhar pelo SUS os médicos não têm vínculos trabalhistas, ou seja, os profissionais não têm direito à férias, 13º salário e licença, além de receberem salário de R$ 2 mil por 20 horas semanais.

“Além desse problema que afasta os médicos do trabalho no SUS, os gestores dos Cais de Goiânia e Aparecida têm cobrado desses profissionais uma cota de atendimento. Por exemplo, eles devem atender 34 pacientes em quatro horas. A qualidade do atendimento se torna deficiente devido à pressão do sistema. É um desrespeito ao médico e aos usuários”, diz Salomão.

O presidente do Conselho Municipal de Saúde, Venerando Lemes, concorda com a afirmação de Patrícia Antunes sobre o PSF. “Por falta de esclarecimento, as pessoas não dão atenção ao PSF e isso ajuda a superlotar as unidades”. De acordo com Venerando, pacientes que não estão com problemas urgentes procuram a emergência das unidades de atendimento sem necessidade. “As pessoas precisam procurar entender o PSF e valorizar esse serviço, para diminuir o fluxo no atendimento de emergência nos Cais. Às vezes falta apenas um maior esclarecimento”, acrescenta.

Venerando aponta outra solução para melhorar o atendimento nos Cais: a ampliação da atenção básica nas unidades que atendem pelo SUS. “É preciso recuperar as unidades que estão sucateadas e ampliar outras que recebem um fluxo maior. Goiânia hoje está três vezes maior que o período em que foram construídas as unidades de saúde”, salienta. ▩

 

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