A unidade, que já foi um modelo de atendimento, agora apresenta vários problemas e enfrenta o risco de uma interdição ética
Inaugurada em 2000 e pioneira na realização de partos humanizados na rede pública de saúde de Goiânia, a Maternidade Nascer Cidadão vive hoje uma realidade bem diferente daquela que no passado lhe rendeu títulos como o de “Maternidade Segura” e “Hospital Amigo da Criança”. A unidade, onde já foram realizados cerca de 28 mil partos, vem passando nos últimos anos por uma grave crise, que tem comprometido as condições de trabalho dos médicos e, consequentemente, a qualidade do atendimento à população.
Em uma fiscalização feita em dezembro passado, o Cremego identificou problemas, como déficit de pessoal, consultórios inadequados, falta de insumos e materiais, conflitos entre as equipes multiprofissionais, não realização de exames na unidade, demora na entrega dos resultados e dificuldades com a regulação de vagas e transferência de pacientes.
Em busca de soluções, o Conselho promoveu, no dia 31 de março, uma plenária temática, que reuniu médicos do corpo clínico, diretores da maternidade, representantes das Sociedades Goianas de Pediatria e de Ginecologia e Obstetrícia, da Secretaria Municipal de Saúde, conselheiros e diretores do conselho. Durante cerca de três horas, eles discutiram o funcionamento da unidade, que, segundo o relatório apresentado pelo diretor de Fiscalização do Cremego, Robson Azevedo, “é passível de interdição ética por não apresentar as condições mínimas exigidas pela Resolução CFM 2.056/2013”.
Diretor diz que maternidade entrou em processo de sucateamento e garante que correções estão sendo providenciadas
Diretor geral da Maternidade Nascer Cidadão, o médico Sebastião Fernandes Moreira, admitiu que, nos últimos anos, a unidade entrou em um processo de sucateamento. Ele garantiu que medidas já estão sendo adotadas para sanar os problemas. A burocracia da gestão pública foi apontada pelo diretor Técnico, médico Jony Rodrigues, como uma das responsáveis pela morosidade na solução dos problemas.
A diretoria da maternidade acredita que esses problemas, citados pelos médicos e constatados pela fiscalização do Cremego, serão sanados com o compartilhamento da gestão da unidade com a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc). A fundação, junto com a Secretaria Municipal de Saúde, já responde pela gestão do Hospital e Maternidade Dona Íris (HMDI). “Já estamos solucionando alguns problemas e, em 60 dias, devemos resolver o restante”, disse Sebastião Moreira.
Cremego define prazo para a solução dos problemas
O presidente do Cremego, Erso Guimarães, estabeleceu um prazo de 60 dias para que os problemas da Maternidade Nascer Cidadão sejam sanados. Após esse período, o Conselho voltará a fiscalizar a unidade e, se as deficiências persistirem, a maternidade poderá ser interditada.
“Não é intenção do Cremego interditar hospitais, mas garantir condições dignas de trabalho para os médicos e o direito da sociedade de ser bem atendida”, disse. Erso Guimarães ressaltou que os conflitos de competência entre os profissionais que trabalham na unidade precisam ser resolvidos para que atuem de forma harmônica. O 1º secretário do Cremego, Fernando Pacéli Neves de Siqueira, ressaltou a necessidade de respeitarem a hierarquia profissional.
O vice-presidente Aldair Novato Silva também defendeu que é preciso garantir o bom funcionamento da Nascer Cidadão. “Além da assistência prestada à população, a maternidade tem um importante papel na formação de novos profissionais de saúde”, afirmou.
O diretor de Fiscalização, Robson Azevedo, elogiou o nível dos debates na plenária e adiantou que o Cremego estará atento ao cumprimento dos prazos para a solução dos problemas. O presidente da Sociedade Goiana de Ginecologia e Obstetrícia, Maurício Machado da Silveira, lamentou a ausência do Ministério Público Estadual no debate.
(Asses. Comunicação – 01/04/15)